O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, decidiu desistir da legalização da canábis para fins recreativos na Costa Rica, depois de dois anos de esforços e de defesa da causa terem finalmente resultado num impasse legislativo.
Início da campanha pela legalização
A campanha para a legalização da canábis recreativa começou a sério durante o governo de Chaves. Há dois anos, no relatório de trabalho que assinalava os primeiros 100 dias do seu governo, o Presidente Rodrigo Chaves anunciou a sua intenção de apresentar um projeto de lei para legalizar a canábis recreativa. O projeto de lei foi oficialmente apresentado ao fluxo legislativo em 5 de outubro de 2022 e começou a ser discutido na Comissão de Meio Ambiente.
Apesar do impulso inicial, o projeto de lei encontrou forte resistência durante as audições organizadas pela Comissão do Ambiente. Embora tenha conseguido reunir alguns votos a seu favor, a opinião maioritária no fórum legislativo opôs-se à iniciativa. O projeto de lei aguarda agora a votação em plenário, onde é provável que seja arquivado por tempo indeterminado.
No entanto, o Sr. Chaves tem defendido apaixonadamente a legalização da canábis, citando duas razões principais: reduzir a atividade criminosa e gerar receitas adicionais para o Estado através da tributação. Em fevereiro de 2024, sublinhou a importância de tal legislação, dizendo: “Propus ao Congresso uma lei para legalizar a canábis. Atualmente, é ilegal. E aqueles que a consomem, vendem e transferem estão a infringir a lei, são criminosos”
Apesar do seu fervor, o Sr. Chaves reconheceu que as hipóteses de sucesso do seu projeto de lei estavam a diminuir. A Assembleia tem tanto a ver com a criminalidade, agora com os arrendamentos mineiros, e já os pôs de lado, por isso, se não podem beber a sopa que lhes damos como aperitivo, porque é que lhes vamos continuar a trazer torresmos?
Mudança de estratégia e continuação da defesa
Apesar da eliminação do projeto de lei original, a campanha para legalizar a canábis ainda não terminou. As atenções estão agora viradas para outra proposta legislativa, o Projeto de Lei 24.176, que visa autorizar e regular o cultivo doméstico de canábis para uso pessoal. A iniciativa é defendida pelo deputado Ariel Robles, que argumenta que a autorização do autocultivo é essencial para proteger a saúde, os direitos humanos e a segurança do consumidor, oferecendo uma alternativa legal ao mercado de drogas ilícitas.
Argumentos a favor e contra
O movimento legislativo para legalizar a canábis suscitou um debate animado entre os legisladores e o público. O deputado Manuel Morales, do Partido Social Democrata do Progresso (PPSD), tem sido um forte apoiante da iniciativa.
Temos um mercado de 120 milhões de dólares por ano só com o consumo de canábis, que agora é legal [ndlr: despenalizado] na Costa Rica. O que é ilegal é a aquisição do produto através de traficantes de droga, o que é perigoso para os consumidores”.
O Sr. Morales também abordou questões de saúde pública, sugerindo que uma educação adequada sobre o consumo de canábis poderia atenuar os riscos potenciais. Comparou esta abordagem à educação sexual, defendendo um consumo informado e responsável para reduzir os internamentos hospitalares devidos a intoxicação.
Do outro lado do debate, os deputados da Liberación Nacional e da Nueva República manifestaram uma forte oposição. Consideram que a legalização pode levar a um aumento do consumo e da pressão sobre os serviços de saúde pública. Apesar destas preocupações, os apoiantes da legalização, como Robles, sublinham a importância de proporcionar meios legais para adquirir canábis, a fim de proteger os consumidores dos perigos associados ao mercado ilícito.
Contexto geral e implicações
Este esforço legislativo faz parte de um debate mais amplo sobre a política de drogas na Costa Rica. Historicamente, o país tem sido tanto um produtor como um consumidor de canábis. Numa conferência de imprensa realizada em 6 de dezembro, o Sr. Chaves reconheceu que “a Costa Rica tem sido um exportador líquido de cannabis durante muitos anos e agora estamos a importar quantidades muito grandes. Trata-se de um problema grave”.
A atual proibição do cultivo e da comercialização da cannabis está prevista no artigo 58.º da Lei dos Estupefacientes e das Substâncias Psicotrópicas. Esta lei limita o cultivo ao uso pessoal, sem intenção de comercialização.
Perspectivas futuras
Embora o Sr. Chaves tenha abandonado a sua postura inicialmente agressiva sobre a legalização da canábis, a questão continua a ser um assunto controverso e em evolução na política da Costa Rica. O resultado do projeto de lei 24.176 será acompanhado de perto durante o processo legislativo. Se for bem sucedido, poderá marcar uma mudança significativa na abordagem do país à regulamentação da canábis, equilibrando as preocupações de saúde pública com a necessidade de minar os mercados de drogas ilícitas.