O Bloco de Esquerda (BE), o partido de esquerda radical deve propor dois projectos de lei sobre a canábis em 2017. O primeiro projeto de lei será dedicado à utilização de cannabis terapêutica e o segundo à cannabis recreativa. Espera-se que o PSD se junte a eles, que em 2015 propôs a legalização do cultivo pessoal e dos clubes sociais de canábis. Na altura, estas propostas foram rejeitadas pelo partido no poder.
O deputado Moisés Ferreira afirma: “Estamos a trabalhar num projeto de duas vias, por um lado a terapêutica e por outro o uso recreativo da cannabis. Queremos encontrar as soluções jurídicas e legislativas adequadas”. Na sua opinião, “há provas científicas suficientes dos efeitos benéficos da canábis, um médico deve poder prescrever esta substância e esta deve estar disponível nas farmácias”.
Os inconvenientes da descriminalização
A deputada Paula Santos, do Partido Comunista Português, quer que estas duas questões sejam claramente diferenciadas. “Há cada vez mais pessoas a pedir tratamento para a canábis, mas também há cada vez mais procura de serviços de saúde para ajudar as pessoas a recuperar da toxicodependência”. A eurodeputada portuguesa defende uma referência mais precisa às dosagens de canábis para cada condição médica, em vez de um único produto.
No que se refere à utilização recreativa, os esquerdistas radicais ainda não decidiram qual o modelo a adotar. “Estamos atentos ao que se passa na Catalunha, mas, entretanto, os EUA propõem um modelo diferente e nós estamos a analisá-lo.
Portugal está a enfrentar o mesmo problema que a França no que diz respeito à utilização de canabinóides na medicina. O país autorizou a distribuição do Sativex para um determinado tipo de esclerose múltipla e, tal como em França, este tratamento ainda não está disponível nas farmácias. No entanto, o Infarmed, a autoridade nacional do medicamento e dos produtos de saúde, reconhece que a ausência do Sativex se deve à “falta de diversificação das aplicações terapêuticas deste tratamento”. Miguel Guimares, Bastonário da Ordem dos Médicos, anunciou hoje no Publico que o Colégio dos Médicos vai aprofundar a questão da canábis terapêutica.
O território neutro de Portugal está a atrair empresários do sector da canábis. A farmacêutica GW já instalou no país a sua filial Green Hearth, enquanto a canadiana Tilray e outra empresa israelita já apresentaram pedidos ao Infarmed para se instalarem em Portugal.
Théo Caillart