O parlamento esloveno apresentou um projeto de lei para legalizar o uso médico e científico da cannabis, após dois referendos bem sucedidos sobre a cannabis no ano passado.
Um importante passo legislativo apoiado pela opinião pública
Na sequência do forte apoio dos eleitores, os membros do Gibanje Svoboda (Movimento para a Liberdade) e do Levica (A Esquerda) apresentaram um projeto de lei ao parlamento esloveno para legalizar a utilização de extratos, plantas e resina de canábis para fins médicos e de investigação.
De acordo com os meios de comunicação social locais N1, o projeto de lei propõe retirar estas substâncias da lista de drogas ilegais na Eslovénia, enquanto o THC continuaria a ser uma substância controlada, a menos que fosse utilizado de acordo com orientações médicas ou científicas específicas.
“O nosso objetivo é proteger os pacientes e consumidores de cannabis de produtos não verificados vendidos no mercado negro, permitir um fornecimento médico ininterrupto aos pacientes e colmatar as actuais lacunas legais no domínio da utilização médica e científica da cannabis”, afirmou o Movimento da Liberdade num comunicado divulgado pelo N1.
Um quadro regulamentar para a canábis medicinal
Se for aprovada, a legislação estabelecerá um quadro regulamentar claro supervisionado pela Agência Pública de Medicamentos e Dispositivos Médicos, que será responsável pela gestão do licenciamento e supervisão da produção e comércio de canábis. O Ministério da Saúde seria responsável pelo procedimento de autorização da utilização de canábis para fins de investigação.
Os deputados sublinharam o duplo objetivo da segurança dos doentes e do desenvolvimento económico.
“Queremos criar um sistema eficaz que tenha em conta as competências existentes das autoridades competentes, ofereça oportunidades económicas e estabeleça claramente os critérios para a obtenção de autorizações para cultivadores e investigadores”, explicou o Movimento para a Liberdade.
O projeto de lei estipula que a cannabis medicinal deve respeitar as mesmas normas de produção e distribuição que os outros produtos farmacêuticos. Será prescrita por profissionais de saúde e dispensada como qualquer outro medicamento sujeito a receita médica, garantindo assim o controlo de qualidade e a rastreabilidade.
A legislação proposta dá prioridade ao acesso dos pacientes que sofrem de doenças graves e crónicas. Nataša Sukić, deputada pela Levica, sublinhou que as pessoas com esclerose múltipla, epilepsia grave e várias formas de cancro beneficiariam do regime.
Para além da saúde pública, o projeto de lei é visto como uma porta de entrada para novas oportunidades económicas, particularmente no contexto do comércio internacional. Sara Žibrat, do Movimento para a Liberdade, sublinhou que a reforma “trará novas oportunidades económicas, especialmente para as exportações para outros países”, conforme noticiado pelo jornal esloveno Dnevnik.
Campanha para uma reforma mais alargada
O anúncio coincidiu com a Marcha anual pela Marijuana em Liubliana, organizada pela Organização de Estudantes da Universidade de Liubliana. Os manifestantes reuniram-se para denunciar a ineficácia da proibição da canábis, argumentando que esta reforça o mercado negro e prejudica os consumidores e o Estado.
“A proibição atual não está claramente a funcionar: só beneficia o mercado negro, enquanto os consumidores de cannabis e o Estado perdem”, disseram os organizadores, segundo o N1. “A proibição provou ser a pior e mais prejudicial forma de “regulação”.
Embora o atual projeto de lei se concentre apenas no uso médico e científico, o Movimento da Liberdade disse que a regulamentação da cannabis para uso pessoal limitado por adultos poderia ser abordada mais tarde na sessão legislativa.